A Arte da Memória é uma técnica clássica que associa imagens a lugares por meio de um processo de lembrança e significação. A partir da memória de locais e do seu contexto, o documentário mergulha no processo criativo de três artistas visuais contemporâneos: Daniel Blaufuks, Pedro Bastos e José Rufino. Apesar das diferentes abordagens de expressão de cada autor, encontramos pontos de comunicação na forma como a memória opera em suas obras. Ao vasculhar os acasos e a desordem, chegamos à mitologia pessoal do diretor, assumindo que a memória é uma ficção como qualquer filme.
A um mês do início das comemorações do nosso 6º aniversário, revelamos a identidade gráfica e começamos a desvendar alguns dos filmes que irão integrar esta programação especial de 10 dias.
Do primeiro eixo de programação – EXPECTATIVA’23 – farão parte os seis filmes que agora anunciamos. Entre eles está PACIFICTION de Albert Serra: o filme mais livre, louco e aventureiro da competição de Cannes de 2022 e incluído em inúmeras listas dos melhores filmes do ano.
EXPECTATIVA’23 vai integrar diversas antestreias de filmes que chegarão ao Trindade durante o ano de 2023. Há mais por revelar!
EXPECTATIVA’23
EO de Jerzy Skolimowski
TORI E LOKITA de Jean-Pierre e Luc Dardenne
QUERO FALAR SOBRE MARGUERITE DURAS de Claire Simon
HOLY SPIDER de Ali Abbasi
A ÁGUA de Elena López Riera
PACIFICTION de Albert Serra
O eixo PORTUGAL CINEMA engloba a antestreia de dois títulos muito antecipados dos realizadores Marco Martins e Carlos Conceição, e três filmes que têm a cidade do Porto como pano de fundo para a produção e construção das suas narrativas (ficcionais e documentais).
PORTUGAL CINEMA
GREAT YARMOUTH: PROVISIONAL FIGURES de Marco Martins
NAÇÃO VALENTE de Carlos Conceição
O QUE PODEM AS PALAVRAS de Luísa Sequeira e Luísa Marinho
MORADA de Eva ÂNGELO
PORTO de Gabe Klinger
Dedicamos a CLÁUDIA VAREJÃO um FOCO especial, com a exibição das suas três longas metragens. O mais recente LOBO E CÃO (2022), que encheu o Trindade nas suas três sessões especiais e está há várias semanas em cartaz; e recordamos AMOR FATI (2020) e AMA SAN (2016), dois documentários que mapeiam pessoas, locais e sentimentos com a sensibilidade emocional e beleza estética a que a realizadora nos habituou.
FOCO: CLÁUDIA VAREJÃO
LOBO E CÃO de Cláudia Varejão
AMOR FATI de Cláudia Varejão
AMA-SAN de Cláudia Varejão
Além de CLÁUDIA VAREJÃO outra realizadora estará em FOCO na programação especial do nosso 6o aniversário: a argentina LUCRECIA MARTEL. Depois de já ter apresentado no nosso cinema ZAMA (2017) e uma cópia restaurada de O PÂNTANO (2001) em 2022, ano em que TERMINAL NORTE (2022) também abriu o Doclisboa em simultâneo com o Trindade, chega agora o momento de ver ou rever os seus filmes em novas cópias restauradas.
São filmes que cimentaram Martel como uma voz única no panorâma actual do cinema argentino e mundial, explorações sobre desejo, sexualidade, existencialismo, envelhecimento, analisando a condição humana em toda a sua complexidade física e psicológica.
FOCO: LUCRECIA MARTEL
O PÂNTANO de Lucrecia Martel
A RAPARIGA SANTA de Lucrecia Martel
A MULHER SEM CABEÇA de Lucrecia Martel
TERMINAL NORTE de Lucrecia Martel
Vamos celebrar juntos!
Uma adolescente europeia foge de casa para casar com um guerrilheiro do Daesh. Torna-se uma noiva da Jihad. Três anos mais tarde a sua vida mudou dramaticamente. Vive num campo de prisioneiros no Iraque. É mãe de dois filhos e está grávida outra vez. Mas agora é uma viúva de 20 anos e será brevemente julgada pelos tribunais iraquianos. A pergunta que se coloca é: quem é esta adolescente, após três anos de guerra e de lavagem cerebral?
O AR – 6ª Festival de Cinema Argentino realiza-se de 21 a 24 de Julho no Cinema Trindade no Porto. Depois de ter sido cancelado em 2020 e várias vezes adiado em 2021, o cinema argentino continua vivo e vai respirar-se finalmente no Trindade este verão.
Normalmente o AR funciona como uma janela aberta, uma radiografia do ambiente — sempre dinâmico e estimulante— do cinema de autor argentino contemporâneo. Neste caso, e depois de um 2020 (e boa parte de 2021) que nos afastou fisicamente das famílias e amigos, será dado um destaque especial aos afectos. Nesta edição o panorama é composto por várias primeiras obras que pensam e refletem sobre os laços familiares, amorosos, de amizade, entre mães e pais e filhos, laços afetivos que se nutrem com lugares, espaços e determinados tempos. São onze filmes que dialogam uns com os outros, estabelecem afinidades, destapam leituras inesperadas, começam e continuam conversas que parece que esperam ser completadas. E haverá uma estreia, uma secção dedicada ao cinema de animação para toda a família que vem para ficar, o Arzinho. Espaço de cuidado e de amor —mas também de solidão— a família é um conceito que está em permanente transformação. E é precisamente esse o eixo ao redor do qual giram os filmes programados nesta edição.
As relações de parentalidade são o eixo central de Las Buenas Intenciones de Ana García Blaya que revela, com uma graça aguçada e imensa ternura, o contexto social derivado de outra profunda crise económica na década de 90. Outra época, outra crise e assim se constrói parte da idiossincrasia argentina da classe média há muitas décadas: sobrevive. Um pai e uma mãe divorciados, três filhos pequenos (com um destaque especial para a extraordinária Amanda Minujín), uma família a fazer o que pode numa combinação de ficção e de arquivo doméstico da própria realizadora.
A morte no seio de uma família é o acontecimento que dispara uma grande primeira obra, Familia Sumergida de María Alché (conhecida em Portugal como a protagonista de La Niña Santa de Lucrecia Martel). A realizadora representa com engenho e luz as mudanças nas relações da sua protagonista, a enorme actriz argentina Mercedes Morán, e desenvolve a forma como, logo após a morte da sua irmã, esta mulher se redescobre a si mesma e ao que a rodeia.
Uma perspectiva familiar algo subversiva é proposta através do olhar de Gustavo Fontán em La Deuda, um filme que coloca o foco no paradoxo de sentir-se longe das pessoas mais próximas num momento de incerteza económica cujas consequências inevitavelmente se cravam no plano familiar. Este é o mais abertamente narrativo trabalho da filmografia de Fontán, com produção de Lila Stantic e dos irmãos Almodóvar.
Entretanto, a singular primeira longa metragem de Lucio Castro, Fin de Siglo, que começa por parecer uma típica história de um-tipo-conhece-outro-tipo mas devagar se vai revelando como uma análise sobre o tempo, a identidade, a memória e o desconcerto. E no meio, a vida a passar, com toda a sua beleza e energia.
O contexto social atravessado pela pandemia transformou também os quotidianos familiares à escala mundial e este acontecimento encontra o seu eco nos filmes mais recentes. É o caso, justamente, do filme de abertura desta edição, La Edad Media, co-dirigida pela parelha artística Luciana Acuña e Alejo Moguillansky, que também actuam, escrevem e produzem. Esta família encontra na quarentena e na incerteza profissional o terreno fértil para embarcar numa comédia que parte do quotidiano – real e surreal – para se abrir à dança do absurdo, ao som de uma cuidada e inventiva banda sonora. Por outro lado Qué Será del Verano, de Ignacio Ceroi, pensa o isolamento e a quarentena como condições de possibilidade. Trabalha com material de arquivo familiar found-footage perante a impossibilidade de sair para filmar, e constrói um documentário que também é uma celebração de possibilidades narrativas da linguagem audiovisual.
E se um grupo de pessoas se reunisse há dezoito anos num mesmo café a ler o mesmo livro uma e outra vez numa espécie de catarse colectiva e renovável? Isso é El Tiempo Perdido de María Álvarez, que celebra o encontro, a sensação de família fora do sangue. Numa homenagem ao espírito de uma Buenos Aires literária e intemporal, Álvarez resgata a arte como algo que nos une, conforma e, muito provavelmente, nos salva a todos.
O cinema preocupado com a História, a política e os vínculos entre o passado e o presente da luta dos trabalhadores pelos seus direitos, tem em Río Turbio um exponente único. A partir de um evento autobiográfico, a realizadora Tatiana Mazú González desenvolve um tom experimental, formalmente lúcido, que ilumina as pontes invisíveis entre as diferentes militâncias e gerações.
Finalmente, poderiam haver 36 maneiras de concluir esta programação mas sabemos, isso sim, que No existen 36 maneras de mostrar cómo un hombre se sube a un caballo, tal como garante o sui generis e delicioso ensaio cinematográfico de Nicolás Zuckerfeld que analisa, a partir de alguns filmes de Raol Walsh, estruturas e formas do cinema clássico. Uma pequena odisseia transformada numa imperdível homenagem ao cinema que somos todos.
A secção Arzinho estreia-se nesta edição especialmente dedicada aos afectos e é composta por dois filmes de animação para toda a família que revelam a riqueza e inquieta expansão do cinema de animação argentino. São filmes para o encontro na sala de cinema, para levar filhos e pais e sobrinhos e amigos de todas as idades. El Patalarga de Mercedes Moreira é uma aventura, nobre e divertida, de três amigos valentes, realizada em “cut out” (figuras em papel e imagens fotografadas de cima e montadas). Ánima Buenos Aires de María Verónica Ramirez revela, através de quatro histórias criadas por destacadíssimos nomes da animação e da gráfica argentina, uma Buenos Aires cheia de charme, de mistérios e de personagens ocultos espalhados pelos cantos de uma cidade realmente encantadora e mágica.
A urgência de pensar a realidade, o olhar atento, às vezes desiludido mas sempre curioso, convive, entre primeiras obras e realizadores consagrados, com as procuras estéticas mais ousadas. Os afectos —e a falta deles—, esse imenso campo aberto por onde passeamos todos, as memórias, os laços que se constroem, conservam, perdem e recuperam, unem este conjunto de frescos e vão encher de ar (e de arzinho), de vitalidade e de beleza, novamente com sotaque argentino, o Cinema Trindade entre 21 e 24 de Julho.
Moguillansky, engenhoso e agudo realizador, e Acuña, não menos engenhosa e aguda bailarina e coreógrafa, escrevem, produzem e actuam neste filme de espírito caseiro com a pandemia da Covid 19 como pano de fundo. A quarentena transforma seriamente o quotidiano de uma família de artistas que deve engendrar novas formas de trabalhar e ganhar dinheiro. Longe de se converter num drama ou denúncia, La Edad Media amplia esta vivência como se de uma comédia absurda se tratasse, aberta às derivas musicais e dramatúrgicas que vão desde Beckett a uma enternecedora actuação canina. Um filme simples sobre coisas complexas que acaba de vencer o prémio a melhor longa-metragem na competição argentina do 23º BAFICI.
21h30
Um clássico café de Buenos Aires é o espaço para um encontro peculiar que se dá há vários anos. Um grupo de pessoas da terceira idade reúne-se de forma metódica, congregados por uma obsessão em comum: ler e discutir Em Busca do Tempo Perdido de Marcel Proust. Com a sua sempre afectuosa atenção e delicado olhar, María Álvarez, realizadora do especialíssimo Las Cinéphilas (4º AR), consegue capturar neste documentário não só a beleza do acto da leitura em si, mas também algo profundamente humanista, como é o prazer de partilhar uma experiência sublime com o outro.
A primeira coisa que vemos são homens montados num cavalo. Imagens seleccionadas de vários westerns do Hollywood clássico no que parece ser um exercício de found footage, mas Nicolás Zuckerfeld vai muito mais longe: A partir de uma misteriosa citação de Raoul Walsh, o documentário abre-se e converte-se num trabalho quase detectivesco que recorre com paixão cinéfila entrevistas, livros, pessoas, traduções falhadas, filmes e mais filmes; para tentar descobrir e entender uma maneira de pensar o cinema que por momentos pareceria perdida para sempre.
19h30
Ignacio compra uma câmara digital em segunda mão para registar as férias e no seu interior encontra um cartão de memória esquecido carregado de imagens que se convertem no disparador de uma expedição rumo a uma intimidade desconhecida. Manifestações em Paris, viagens pela selva africana, os afectos de outro. Tudo pode conviver nas vidas paralelas, reais ou imaginárias, deste filme (Melhor Filme Argentino BAFICI 2021), com uma liberdade explosiva que vai em busca dessa semente ficcional guardada no coração de alguns registros documentais.
21h30
Enquanto a sua família vive num apartamento de um subúrbio de Buenos Aires onde as plantas compõem uma espécie de recife de corais, Marcela ocupa-se da vida que a sua irmã deixou ao morrer. A intimidade que desenvolve com o Nacho dá cor ao luto que vive com ilusão e mistério. Nesta primeira longa-metragem, Alché pinta com destreza o quotidiano familiar e destaca o seu epicentro: uma viagem íntima, feminina, aqui e ali, fantasmagórica. Por outro lado, reivindica formas de conhecimento descredibilizadas pela razão e, com um humor agudo, desafia a “honra” de certos afectos.
Um bandoneón lança notas no ar e o seu som evoca de maneira tão misteriosa como inequívoca a cidade de Buenos Aires. Uma verdadeira seleção de autores de banda desenhada e de animação argentinos tecem este retrato coral acompanhados pela música de Rodolfo Medeiros. Ánima Buenos Aires é uma viagem poética e profundamente autoral pela idiossincrasia rioplatense, as suas ruas, as suas personagens e a sua História. Com um humor que não distingue idades e uma combinação de técnicas que vai desde a animação tradicional em 2D, à foto-montagem de stencils, trata-se de um conjunto de curtas cheias de virtuosismo e beleza.
19h30
Se o primeiro filme de uma filmografia é ao mesmo tempo apresentação e declaração de princípios, este trabalho de García Blaya mata dois coelhos de uma cajadada só. Aproveitando como matéria prima a sua própria infância –a separação dos seus pais e uma mudança de país- constrói não só um comovedor retrato familiar, mas também a radiografia de uma sociedade moldada pelas crises económicas e pelas suas paixões populares. A realizadora une ficção com material de arquivo caseiro e consegue o milagre característico daqueles relatos íntimos especiais: ser universal.
21h30
A escuridão envolve o rosto de Mónica enquanto procura dinheiro numa noite que parece não ter fim. Os seus gestos deixam ver que esta viagem não a faz pela primeira vez e que a dívida que tem para pagar vai para além de uma formalidade bancária. Esgotar as possibilidades também passa por provocar encontros que desafiam a vulnerabilidade da personagem através dos olhos perseverantes da actriz Belém Blanco. La Deuda lembra-nos que nas trevas mais profundas das relações humanas também existem clarões de amor que podem aparecer como a alva de um novo dia.
Depois de almoçar, quando as tardes quentes e calmas vão chegando, as aldeias entregam-se a um desses prazeres milenários: a sesta. Só os miúdos, com as suas brincadeiras e gritarias, poderiam interromper este momento de paz. Mas uma criatura assustadora encarrega-se de os impedir, o Patalarga. Esta primeira obra de Mercedes Moreira conta a aventura de três amigos, Teto, Maru e Ramón, que um dia decidem ser valentes e lutar pela verdade. Uma história encantadora, genuína e nobre, realizada em “cut out” (figuras em papel e imagens fotografadas de cima e montadas), que reflete o panorama rico e em inquieta expansão do cinema de animação argentino.
19h30
Por entre material de arquivo familiar, transmissões de rádio ou mensagens de Whatsapp, Río Turbio não se limita a documentar um capítulo da História sindical argentina que aconteceu há algumas décadas numa povoação remota da Patagónia, mas consegue algo bem mais difícil: iluminar as pontes entre as lutas do passado e as do nosso presente. Mazú entende que tal como a militância pode e deve adquirir diversas formas para conseguir as suas conquistas, o cinema deve abraçar ideias visuais e sonoras igualmente revolucionárias quando se propõe tornar visível o invisível.
21h30
Chegar a uma estação, andar pelas ruas, entrar num apartamento alugado temporariamente, abrir o frigorífico. O quotidiano marca o compasso deste filme. As premissas iniciais são concretas, horizonte urbano, cruising na praia. Eventualmente a coisa complica-se: o presente leva-nos ao passado em forma de memória perdida e cobrada, e um sonho inquieta-nos num desejo. O passado e o futuro compõem o tempo presente, nostalgias e desejos habitam paralelamente os corpos e mentes destes dois homens, as suas forças e as experiências. Que voltam a encontrar-se. Para voltar a sonhar.
Para mais informações, confira o programa completo aqui.
Aida é uma tradutora para a ONU numa cidadezinha de Srebrenica, na Bósnia Herzegovina. Quando o exército sérvio toma conta da cidade, a família dela está entre os milhares de cidadãos que procuram abrigo no espaço protegido da ONU.
Na Alemanha do pós-guerra, Hans é repetidamente preso por ser homossexual. O seu desejo de liberdade é frustrado de forma sistemática ao ser considerado culpado de infringir o artigo 175.º do Código Penal alemão. A única relação estável na sua vida passa a ser o seu companheiro de cela de longa data, Viktor, um assassino condenado. O que começa como um sentimento de repulsa transforma-se progressivamente em amor.
Amin era menor quando chegou à Dinamarca sozinho, vindo do Afeganistão. Hoje, com 36 anos, é um académico de sucesso e está noivo do seu namorado de longa data. Mas esconde um segredo há mais de 20 anos, que começa a ameaçar arruinar a vida que construiu para si. Amin, pela primeira vez, partilha a sua história com um amigo chegado.
Depois de termos sido privados de celebrar o 4º aniversário, este ano queremos tirar a desforra.
De 5 a 16 de Fevereiro vamos celebrar o 5º aniversário com um alinhamento muito especial, pautado pela habituais antestreias exclusivas e outros eixos de programação que nos levarão por uma viagem através de diferentes países e sempre na companhia dos melhores realizadores.
A PIOR PESSOA DO MUNDO
de Joachim Trier
[Noruega, França, Suécia, Dinamarca/ 2021/ 127 min]
SINOPSE
Prestes a completar trinta anos, Julie encontra-se numa crise existencial. Depois de ser pressionada pelo namorado, Askel, para assentar, a jovem invade uma festa e conhece Eivind, com o qual inicia um relacionamento amoroso, na expectativa de novas vivências. Porém, apercebe-se de que algumas escolhas de vida ficaram irremediavelmente para trás.
Os últimos dias de um casal de idosos atingidos pela idade e demência.
Rahim encontra-se preso devido a uma dívida que não conseguiu pagar. Durante uma saída precária de dois dias, tenta convencer o seu credor a perdoar-lhe uma parte da quantia, mas as coisas não correm como esperado.
Lisa está a sair de casa. Mara é deixada para trás. À medida que as caixas são deslocadas e os armários construídos, abismos começam a abrir-se e uma montanha-russa emocional é posta em movimento. Um filme de catástrofe tragicómica. Uma balada poética sobre a mudança e a transitoriedade.
Daniele é um jovem que vive nas margens da Lagoa de Veneza, ele sonha com um “barchino” (barco a motor) que bata recordes. Um conto vestigial de iniciação masculina, violento e destinado ao fracasso, explode arrastando a cidade fantasma para um naufrágio psicadélico.
O filme passa-se numa aldeia da Córsega situada nas montanhas, onde cada um vive o verão à sua maneira: as crianças brincam, os adolescentes flertam e os mais velhos comentam sobre a passagem do tempo no bar local. No calor de agosto, não demora muito para que as tensões aumentem no seio de uma família que lutava para impedir que rancores antigos viessem à superfície.
Um casal sem filhos na Islândia rural faz um dia uma descoberta alarmante no seu estábulo de ovelhas. Em breve enfrentarão as consequências de desafiar a vontade da natureza, neste sombrio e atmosférico conto folclórico, a impressionante estreia do realizador Valdimar Jóhannsson.
Na década de 1970, um homem desconhecido chega a uma calma cidade na província. Num restaurante, sem qualquer razão aparente, começa a insultar Cláudio, um reputado advogado. A comunidade apoia o advogado e o desconhecido é humilhado e expulso do local. Mais tarde, o homem que está determinado a executar uma terrível vingança, intercepta Cláudio e a sua mulher, Susana. O advogado segue um caminho sem retorno, envolvendo morte, segredos e silêncios.
★ Melhor Realizador, Actor e Fotografia – Festival de San Sebastián (2018)
Jaime registou tudo, até a própria morte. Dele, a filha recebeu mais de cem horas de vídeos caseiros e muitas incertezas. Como muitas pessoas da sua geração, Jaime levava uma vida na clandestinidade. Mas no seu caso, uma clandestinidade
provavelmente dupla. As imagens gravadas por Jaime ganham novos significados para dar lugar a questões sobre desejo, sexualidade, família e liberdade. El Silencio Es un Cuerpo que Cae é uma viagem a um passado íntimo e familiar, mas também a um passado político.
★ Seleção Oficial – Queerlisboa 2019
O que significa (ainda) acreditar no poder revolucionário do cinema? Quatro amigos juntam-se numa casa de campo para refazer partes de obras icónicas desse poder, como La Chinoise (1967) de Godard ou Nicht löschbares Feuer (1969) de Harun Farocki. Depois de Leones, a sua obra de estreia, o estilo elíptico de Jazmín López está de volta. Nunca sabemos de onde vem o som, nem para onde pode partir a câmara. O português Rui Poças é o diretor de fotografia.
★ Seleção Oficial (Tiger Award Competition) – Festival de Roterdão 2020
Literalmente, dois disparos desencadeiam esta história. Uma madrugada, Mariano,
um adolescente de 17 anos, encontra um revólver em casa e, sem pensar, aponta
a arma e dispara duas vezes. Sobrevive. Ninguém está desesperado nem antes nem depois desta ação. No entanto, a sua mãe, uma advogada de férias, o seu irmão técnico de informática, a rapariga que conhece, o quarteto de flauta e uns companheiros de viagem à costa atlântica, digamos que na sua plena normalidade não estarão. As ações de todas as personagens constroem o ambiente sem que seja preciso explicar alguma coisa. Rejtman entrega-nos um delicioso melodrama que vai absorvendo pouco a pouco esse humor absurdo e elegante, tão particular do realizador.
★ Seleção Oficial (Concorso Internazionale) – Festival de Locarno 2014
Durante vários dias e noites, um ator e uma atriz leem a correspondência trocada entre Torcuato e Kamala, os pais da realizadora, ele da Argentina, ela da Índia. As cartas, abarcando as décadas de 1950, 1960 e 1970, referenciam o amor e o idealismo, documentam viagens pelo mundo, falam de socialismo e psicanálise, dor e sonhos desfeitos. A sua leitura revela uma relação entre os atores, com diferenças e similitudes. Enquanto isso a filha, a realizadora, procura reconstruir o puzzle da memória familiar.
★ Seleção Oficial (Zabaltegi-Tabakalera) – Festival de San Sebastián 2019