A “puta sagrada” do título é a câmara de filmar. Uma equipa de cinema alemã instalada em Itália espera o dinheiro para começar a rodar. Num filme recheado de alusões autobiográficas e auto-citações cinéfilas, num tom predominantemente satírico, Fassbinder lembra-nos que nem sempre os sonhos se podem realizar e que, entre os discursos e os factos, a distância pode ser grande.
Um homem regressa a casa e tenta reconstruir a sua vida laboral e conjugal, tornando-se num mercador de fruta, ajudado pela sua mulher e outro homem, poucos anos depois do final da guerra. Num dos melhores filmes de toda a obra de Fassbinder, inspirado na vida de um tio seu, este pequeno conjunto de personagens irá oferecer um olhar humano e fulminante sobre os fantasmas, as divisões, a violência e a autodestruição de uma sociedade, e dos seus cidadãos, que tenta conviver com um passado irreconciliável com a própria vida. Uma obra determinante do cinema europeu do pós-guerra e da carreira de Fassbinder.
Um exercício brilhante sobre a dinâmica do poder e da submissão nas relações e uma das tentativas mais bem sucedidas de Fassbinder de apresentar uma peça de teatro, também da sua autoria, no cinema. A história gira em torno de Petra von Kant (Margit Carstensen), uma estilista bem sucedida que vive fechada no seu apartamento com a sua assistente Marlene (Irm Hermann). Entre as suas criações e as suas memórias, Petra vive isolada no seu mundo. Karin Thimm (Hanna Schygulla) é o elemento que falta para a relação claustrofóbica que se vai desenvolver entre as três mulheres. Karin é apresentada por uma amiga a Petra, que se deixa imediatamente fascinar por ela. As duas vão manter uma relação amorosa, que não vai durar muito tempo…
A descoberta da obra de Sirk foi crucial para Fassbinder, que aqui como usa All that Heaven Allows, transpondo-o para a Alemanha dos anos 70, radicalizando a diferença de idade entre os dois amantes pelas diferenças culturais e raciais. Mas Fassbinder não se limitou a transpor a história do filme de Sirk para a Alemanha do seu tempo, pois, como disse: “não se é forçado a refazer alguma coisa simplesmente porque ela nos pareceu bela. É preciso tentar contar uma história pessoal, apoiando-se na impressão causada pelo filme”.
Um dos projectos mais acarinhados de Fassbinder, esta adaptação do romance de Theodor Fontane, na qual trabalhou cerca ao longo de vários anos, foi o seu maior êxito de público na Alemanha. Tem um longo subtítulo: “Ou os muitos que fazem uma ideia das suas possibilidades e necessidades, porém, aceitam através das suas acções a ordem dominante, ajudando, dessa forma, a sustentá-la e a fortalecê-la”. É um dos seus filmes mais complexos, do ponto de vista formal, com um trabalho peculiar sobre a língua alemã.
Emma Küsters vive em Frankfurt, é casada e mãe de dois filhos. Quando recebem a notícia de que o senhor Küsters terá assassinado o director da fábrica onde trabalhava, suicidando-se de seguida, a vida familiar é devassada pela polícia e pelos jornalistas que querem escrever a sua versão dos factos. Sentindo-se abandonada pela família vai encontrar no casal Marianne e Karl Tillmann os ouvidos atentos de que precisa. Mas afinal, também eles querem explorar, de outra forma, o seu caso…
Roleta Chinesa é um “jogo em espaço fechado”: um casal vai passar um fim-de-semana numa casa de campo, separadamente, cada um com o seu (a sua) amante e têm a surpresa de se encontrar frente a frente. A filha do casal, uma pré-adolescente que sofre de deficiência física, e que organizara esta maquinação, põe em movimento um cruel “jogo da verdade” durante aqueles dias. O ambiente é ameaçador, e há um enigma por desvendar.
Segunda Guerra Mundial. Maria casa-se apressadamente com Hermann Braun, um soldado alemão. Desaparecido em combate, Maria recusa-se a acreditar na sua morte. E a sua história de luta pela sobrevivência tem como pano de fundo os anos de guerra até ao milagre económico que se lhe seguiu. Hanna Schygulla foi distinguida com o Urso de Prata para a melhor actriz no Festival de Cinema de Berlim. É uma das obras-primas de Fassbinder que inclui várias metáforas cinematográficas sobre a questão da identidade e as experiências do pós-guerra alemão.